Caíste que nem um patinho - esquemas, fraudes e outros que tais


Enquanto não pomos em dia os locais por onde temos estado, decidimos fazer um post a contar algumas das nossas peripécias no que toca a esquemas e fraudes nesta viagem. Temo-nos apercebido que ter pele clara, um formato de olhos diferente ou altura descomunal e barba (no caso do Fábio) chama imenso a atenção dos locais e parece colocar-nos um letreiro na testa a dizer "Gente rica" (se calhar devíamos afixar na testa o recibo dos hostels para verem que não nadamos em dinheiro). Com esta imagem na cabeça, os esquemas e fraudes para nos sacarem dinheiro lá vão aparecendo. Alguns conseguimos evitar, outros contaram-nos e nunca os vimos, mas a maioria ... Sim, tivemos de cair neles para aprender. Aqui fica a nossa lista até agora:


- Tuk-tuk manhoso (Cambodja): quando contratas um tuk-tuk, podes ter algumas surpresas: ele ficou à tua espera porque foste só buscar algo e cobra por esse tempo parado, pagaste pelo dia inteiro e queres ver uma coisa que estava fora da rota e ele cobra novamente... O melhor mesmo é definir logo tudo de início e sempre que queres fazer algo de diferente do acordado, pergunta se tem custo extra e não se é possível (possível é sempre, pagas é mais).


- Bilhete com paragem no cu de Judas (Cambodja e Vietname): este já nos deu imensas chatices. País diferente, língua que não conheces, vais para uma nova cidade e compraste bilhete de autocarro a esperar que vá para um local central do teu destino. Quando dás por ti, o motorista pára num sítio, não reconheces nada, mas não te parece o centro da cidade. Se fores rápido(a), ainda vês no GPS que tens razão e estás a 5 ou 10 km da cidade. Azar, já te puseram a mala no chão e disseram que tens de sair enquanto repetem "last stop". Sais e tens tuk-tuks e taxistas por todo o lado, desejosos de te "ajudar", se é que não te estão já a levar a mala para o veículo. E agora? Não temos solução para isto. Vamos por partes. Verifica sempre quando compras o bilhete onde é o local de paragem: pode acontecer que seja bem longe de onde queres ficar e convém que negoceies isso. Se há locais (gente do país) no autocarro, desconfia de que é a última paragem e de que tens de sair. Reclama se o local não é o acordado (por coincidência, é nesta altura que os motoristas deixam de saber falar inglês). Não adianta exaltares-te porque pode ser perigoso ou eles nem te ligam nenhuma. Saindo do autocarro, pega logo na tua mala e pede que te dêem espaço. Regista a matrícula do autocarro e outros dados possíveis para apresentares reclamação onde compraste os bilhetes (já nos aconteceu reavermos dinheiro e termos compensação). Percebe onde estás mesmo: pode ser que consigas ir a pé para o local correcto. Se for longe, tenta entender se há autocarros urbanos na zona: bem mais baratos que outras alternativas. Os taxistas e tuk-tuks que estão à espera fora do autocarro já parecem saber de antemão que aí vens por isso achamos que está tudo combinado na maioria das vezes (quando o motorista do autocarro nos diz mesmo 'apanha um táxi', é de desconfiar a sério). Se tiveres mesmo de ir com tuk-tuks/taxistas, tenta ver na net/apps quais os preços normais para onde queres ir ou pergunta a um local/alguém a trabalhar numa loja que esteja perto. Por fim, regateia, regateia muito mesmo - já chegámos a começar nos 10$ e acabar nos 2$ depois de dizermos que íamos a pé. Este esquema já nos aconteceu em autocarro, barco e carrinha (felizmente nunca em avião).


- O "amigo" que te avisa que é a última paragem: muito semelhante ao esquema anterior, só que neste, quando o autocarro pára, entra um local (que pensas ser da empresa de autocarros) que diz 'last stop' enquanto olha para ti. Por sorte, és o único turista no autocarro e só por isso falou para ti. Quando sais do autocarro, é a história que já conheces: imensos "amigos" prontos para te dar boleia desde que pagues os olhos da cara. Custou-nos mais este esquema quando já dentro do tuk-tuk percebemos que o condutor era o tal "amigo" que nos avisou da última paragem. As dicas são as mesmas do esquema anterior.

- "Say cheese/money" (Cambodja): uma coisa é pagares para te tirarem fotos porreiras com paisagens/monumentos e a foto até sai no momento. Tens imensos desses fotógrafos por aqui. Outra é quando estás a visitar um monumento e um guarda de lá te vê a tirar uma foto e diz "eu tiro por ti". Agradeces e pensas "que simpático". Depois ele até te sugere outro ângulo para tirar foto, e outro, e outro, e quando dás por ti já te está a aconselhar a ires ali perto para um sítio com um ângulo espectacular. Já estranhas tanta simpatia, mas no final percebes: ele exige uma notinha pelo trabalho de fotógrafo com mau enquadramento. A solução é não te entusiasmares com as fotos para o Instagram e agradecer pela ajuda, mas não deixes que te conduza por aí fora. Pegas na máquina/telemóvel e vens-te embora.


- Não há modelos de graça (Vietname): quem é que nunca viu aquelas fotos icónicas, dignas de postal, do homem sentado em cima do búfalo nos arrozais ou da senhora que equilibra 2 cestos num pau nos ombros? Que inveja de quem tira essas fotos espontâneas e naturais. E se tivessem de pagar ao modelo? Já não parece uma imagem tão espontânea e a inveja já se foi. Se a do búfalo apenas nos foi contada, a da senhora assistimos mesmo: quando perguntámos se podíamos tirar foto à senhora que deambulava pelas ruas, ela disse que sim, mas tínhamos de pagar. O melhor nestes casos, é perguntar sempre se podem tirar foto - aliás, em qualquer caso! Se depois de tirarem foto vos pedirem dinheiro, argumentem que não vos foi dito e mostrem que apagam a foto. E ponham-se a andar enquanto eles resmungam.



- O preço é muito bom, pena não estar cozinhado (Cambodja): quem é que gosta de marisco? Camarão, caranguejo, lagosta, ... E se for barato, mesmo barato? Até se levantam os 2 braços! Foi com essa esperança que fomos até ao Crab Market, em Kampot. No início do mercado temos petiscos prontos a consumir e ainda nas brasas, mas no interior encontramos gente a vender marisco fresco, ainda vivo, com panelas e frigideiras mesmo ao lado para se cozinhar na hora. No regateio de preços indispensável, percebemos que compensa comprar o marisco fresco e pedir que o cozinhem à nossa frente, em vez de ir às bancas onde ele está pronto a comer. Preço acordado para 1kg de camarão, aí estamos nós a olhar para a frigideira e a Lena a dizer "not to much spicy". Petisco pronto e a sair e o preço muda: afinal o preço discutido era só para o comprar, para cozinhar era mais um tanto. Não adiantou dizer que tínhamos referido que era para cozinhar e que nos estavam a querer levar mais. Não correu muito mal porque não tínhamos pago ainda: eles ficaram com os camarões, nós com a fome. A solução foi ir a outra banca, discutir valor e quando foi para cozinhar a senhora disse-nos na hora que eram mais 2000 riel com outra colega (bem abaixo dos 3$ extra que a primeira senhora pediu). Novamente, tudo bem explicado desde início, mesmo o que pareça de senso comum, ajuda a evitar situações chatas.


No final, há 2 coisas a reter: esclarecer sempre bem quando se compra algo porque o nosso bom senso pode não ser o da cultura que visitamos e não entrar em desconfiança paranóica a pensar que tudo é esquema. Apesar de termos sido enganados algumas vezes, fomos muito mais vezes surpreendidos com a bondade das pessoas que vamos encontrando e isso faz-nos acreditar que o mundo é um bom lugar.
Não percam os próximos esquemas que aí vêm porque nós... Certamente que vamos tentar não cair neles!

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